Penso em tudo que aconteceu nos últimos anos e perco o ar. Olho no relógio e são uma da manhã de mais um 1º de Dezembro. Me sufoco por me sentir tão vulnerável ao tempo e tão... estranha aqui. Vou pra sala e paro por um instante na varanda, vendo por trás do vidro as luzes de Natal se apagando. Tenho vontade de sentar ali um pouco e respirar, mas sinto medo da solidão que isso me faria sentir e de tudo que eu lembraria. Saudade. Melancolia. Nostalgia. Suspiro e me tranco de volta no quarto sufocante e quente demais querendo muito chorar. Mas ao invés disso procuro esse papel e essa lapiseira e começo a escrever. E meu Deus, quanta coisa eu tenho pra dizer, mas as perco em meio a tanta confusão. Merda. Qualquer barulho lá fora me distrai e me faz querer estar bem longe. Meu olhos umedecem e me sinto inquieta por não conseguir encaixar nesse texto um final feliz ou uma mensagem de esperança pra mim mesmo. Afinal, a esperança parece tão fraca que qualquer excesso poderia despedaçá-la. Tenho intenção de escrever sobre tudo agora, mas não dá. Quero aceitar que o que poderia ser feito esse ano já deveria estar feito, porque o tempo acabou. Mas ainda há tanto pra resolver, talvez uma vida nem seja suficiente.. Os carros passam e eu ouço suas músicas, queria muito sair e ver se mais alguém se sente como eu a essa hora da noite. Se o fim de ano os assusta. Se a noite lhes tira o sono. Sem também têm tudo pra serem felizes mas ao mesmo tempo precisam de mais. Mais liberdade, mais fé, mais beleza, mais disposição. Talvez seja só eu que me sinta assim, mas acho impossível estar completo o tempo todo. O ser humano é difícil de agradar.

Eu não tenho mais como pensar. Me sinto exausta de carregar um mundo nas costas. Espero realmente que a partir de hoje tudo melhore, que ano que vem tudo fique bem e que no próximo 1º de Dezembro eu não me sinta tão...vazia. Parece difícil, mas não custa nada pendurar uns piscas-piscas, fingir que não me sinto quebrada por dentro, sentar e esperar por mais esse recomeço.

Fecho o caderno e vou deitar, cansada de promessas de fim de ano que jamais serão cumpridas.

Basta por hoje.